segunda-feira, 20 de junho de 2011

sem mais.

Caminho em uma noite de inverno. Não há ninguém na rua, mas sou capaz de enchê-la com minhas angústias. Faz frio, mas o pior frio é aquele que me humaniza. Não, não quero parecer um babaca, mas também não quero abrir mão das minhas dores. Nessa rua existem vários caminhos, pode parecer confuso, pode parecer que eu não saiba qual seguir, mas eu sei. Parece que o frio aumentou, mas ele não me incomoda tanto. Existe uma música que não sai da minha cabeça, ela toca desafinadamente dentro de mim, mas ela não me causa dor, pelo contrário, me traz uma esperança que nunca tive, me traz a certeza de que a dor é uma escolha e que logo vai passar. A rua está em silêncio, calma e alaranjada como sempre. Meus passos fazem um enorme barulho. Não ouço nada além de passos mudos e o som da minha voz que repete a metade de uma canção com fervor como se fosse uma oração.

domingo, 5 de junho de 2011

Epifanias

As mãos eram tão finas. E não eram minhas próprias mãos. O sorriso era lindo. Conseguia ver, mesmo não vendo o resto do rosto. A barba era fina e não me espetava. Os cabelos eram grandes e encaracolados. Não lembro da cor dos olhos, não lembro do tamanho da boca. Lembro da pele clara, da voz rouca e do beijo que não consegui receber por causa da minha distração. O toque era suave e conseguia me arrepiar. Me lembro de estar triste, mas a nova fase do homem desconhecido me trouxe esperanças. O ambiente tinha se transformado com a presença daquela figura misteriosamente risonha, agora tudo era mais vermelho, a luz era muito forte. Eu estava feliz. Depois do beijo não dado. Das minhas juras ditas em silencio. E do meu amor desesperado. O homem começou a sorrir.
De repente a cor vermelha foi ficando cinza. A luz forte foi ficando normalmente amarelada. E o homem desconhecido disse: “Preciso ir, mas nós vamos nos encontrar por ai. Fica calmo!”. Tentei agarrar aquele vulto. Ele sumiu e todas as coisas, aos poucos, foram voltando ao normal. A dor, a solidão, o estresse, e a vontade de morrer aos poucos. Mas a esperança não era como antes, e nem poderia ser. Estou mais tranquilo. Continuarei esperando o homem do sonho fugaz, mesmo conscientemente, não sabendo nada sobre ele. Esperarei mesmo sabendo, bem lá no fundo, que esse homem sou eu. Talvez esse homem nem exista... Mas continuarei esperando. Até que ele chegue em um dia comum. Como uma pessoa comum. Me trazendo rosas brancas e dizendo que me ama.