terça-feira, 27 de março de 2012

Jardim de inverno

Não tem entrada, não tem saída. O verão acabou há duas semanas, começou o outono e o inverno logo chegará. Criei um lindo jardim, sem entrada, sem saída. Mas o inverno está chegando, sempre chega; as folhas caem e as flores morrem. Desespero é perceber que essa idealização foi se desfazendo aos poucos. De repente o jardim devorou o próprio jardim e, quando percebi, era tarde demais. Não fiz mais nada. Vesti-me de farrapos para igualar-me ao jardim que havia dentro dele. Foi em vão, pois sempre existirá alguém capaz de enxergar a beleza das flores mortas, das folhas secas. Fui convivendo e deixando, aos poucos, de gostar daquela projeção no canto da sala. Era parte de mim, eu sei. Ele também era. Senti falta na primeira semana. Mas precisava decidir o que fazer com as flores. Pensei em trocá-las, mas não suportaria uma nova decepção. Pensei em deixá-las ali, mas ver toda aquela podridão me remetia a minha própria solidão e isso doía. Resolvi criar uma porta. Entrei e tirei todo aquele lixo. Voltei a pensar em novas flores, mas, o mais sensato, é deixar aquele espaço vazio. Espaços vazios e pisos frios dão eco. E, de repente, me sinto assim: espaço vazio e piso frio que ecoa. Tenho uma nova entrada, o espaço está limpo, mas, às vezes, parece que o meu jardim de inverno continua com todas aquelas flores secas. No fundo, mesmo tendo construído uma nova saída, meu jardim de inverno continua sem entrada; continua sem saída.

terça-feira, 20 de março de 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012