sexta-feira, 6 de abril de 2012

Jonas

Não ouvi e mudei o assunto. Senti que talvez não conseguiria dar continuidade aquilo, ou talvez não conseguiria acompanhá-lo. Era isso! Não conseguirei acompanhá-lo. Jonas pensou em pedir vinho. Está quente demais e isso não é um encontro, eu disse. E, como sempre, ele resolveu dizer qualquer frase egocêntrica. Não adianta, já conheço essas manias... Ou não. Você voltou a fumar... Não gosto desse cheiro. Não, beleza, ainda não está me incomodando.
Meus amigos já se foram, cara. E sua música está tocando... Para com isso, não precisa pedir música nenhuma. Sei que você está feliz, seus olhos dizem isso. Preciso ir. Sério, preciso mesmo. Por favor, não faz essa cara! Precisamos passar em um lugar antes... Por que você está andando na minha frente? Odeio quando você faz isso. Não segura minha mão! Filho da puta, por que você me beijou? Agora grita, diz para todos que você me ama! Por falar nisso... Não me liga quando você estiver bêbado. Não quero ouvir sua declaração porque depois você se arrepende. É sempre a mesma coisa.
Aquela é sua ex namorada? Como eu sei? Você me mostrou uma foto que estava na sua carteira no dia em que nos conhecemos. Você sempre é o filho da puta nas relações. Me solta! Já disse que não quero te beijar. Eu disse que vou te ligar amanhã, você lembra? Vou dizer que me arrependi de ter te ligado. Direi que não deveria ter te beijado. E ainda vou dizer que não pretendo voltar a me relacionar com você. Sim, esse foi nosso ultimo encontro. Exatamente! Estou apaixonado por outra pessoa. Cadê seu amor próprio? Para de chorar... Não adianta falar que vai se matar. Para com isso! Você sempre me assusta! Realmente preciso ir. Fica bem, meu bem!
Depois disso nós nunca mais nos falamos. Não nos ligamos e nunca mais soube nada sobre ele. Talvez tenha se matado. Hoje pensei em ligar para ele. Pensei que poderíamos almoçar juntos e, talvez, poderíamos até beber vinho. Não, isso não está certo. É melhor deixar ir...

terça-feira, 27 de março de 2012

Jardim de inverno

Não tem entrada, não tem saída. O verão acabou há duas semanas, começou o outono e o inverno logo chegará. Criei um lindo jardim, sem entrada, sem saída. Mas o inverno está chegando, sempre chega; as folhas caem e as flores morrem. Desespero é perceber que essa idealização foi se desfazendo aos poucos. De repente o jardim devorou o próprio jardim e, quando percebi, era tarde demais. Não fiz mais nada. Vesti-me de farrapos para igualar-me ao jardim que havia dentro dele. Foi em vão, pois sempre existirá alguém capaz de enxergar a beleza das flores mortas, das folhas secas. Fui convivendo e deixando, aos poucos, de gostar daquela projeção no canto da sala. Era parte de mim, eu sei. Ele também era. Senti falta na primeira semana. Mas precisava decidir o que fazer com as flores. Pensei em trocá-las, mas não suportaria uma nova decepção. Pensei em deixá-las ali, mas ver toda aquela podridão me remetia a minha própria solidão e isso doía. Resolvi criar uma porta. Entrei e tirei todo aquele lixo. Voltei a pensar em novas flores, mas, o mais sensato, é deixar aquele espaço vazio. Espaços vazios e pisos frios dão eco. E, de repente, me sinto assim: espaço vazio e piso frio que ecoa. Tenho uma nova entrada, o espaço está limpo, mas, às vezes, parece que o meu jardim de inverno continua com todas aquelas flores secas. No fundo, mesmo tendo construído uma nova saída, meu jardim de inverno continua sem entrada; continua sem saída.

terça-feira, 20 de março de 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Aos que sentem fome

As pessoas sentem fome. As pessoas escondem a fome. As pessoas morrem de fome. Precisamos de vitaminas, minerais e fíbras. Nosso corpo pede, nosso corpo precisa. Quando ingerimos algum alimento com deficiência de vitaminas, por exemplo, continuamos sentindo fome. Falta algo. Continuamos comendo pois ainda sentimos fome. Comemos sem gostar. Comemos apenas para saciar nosso desejo. Ninguém gosta de sentir fome, ninguém nasceu para sentir fome.
Se a comida não existisse a fome também não existiria. É culpa dessa maldita necessidade de devorar. Nos ensinaram que sentir fome é ruim, nos ensinaram a procurar nosso próprio alimento; nos ensinaram que não é possível ser feliz com a fome. É essa necessidade que mata aos poucos.
Algumas pessoas conseguem conviver com a fome. Algumas pessoas conseguem conviver com a dor da fome. Talvez as pessoas estejam comendo mal e, por isso, elas sentem a necessidade de comer sempre. Estão perdendo o prazer de preparar, esperar, cuidar e devorar.
Gosto de falar devorar porque é diferente de comer. As pessoas comem porque precisam saciar um desejo passageiro. Devorar não, devorar é diferente. Quem devora sente fome de verdade. Quem devora, geralmente, esperou muito por aquilo. Antes de devorar a pessoa precisou plantar, esperar, cuidar, preparar e, depois de sentir muita fome, finalmente devorar. Quem sentiu fome a vida inteira devora o que sempre quis e nunca teve. Não tenho/tenha medo de devorar.

Me perdi nisso tudo e já está amanhecendo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Saimos a noite a procura de amor. Encontramos bêbida, pseudo felicidade e sexo. Embarcamos, chupamos e damos. Procuramos amor onde só há sexo. Encontramos dor, nojo e talvez libido. Sexo casualmente bêbado me traz uma vergonhosa ressaca. Ressaca de medo, raiva, solidão e depressão.

É deixar-se possuir
Corpo, alma e ser
Livre nessa escuridão que conhecemos
É deixar-se possuir
Por algo que te rasga
Corpo, alma e ser
Dominado por aquele prazer
De pêlos, líquido e desejo
De morte,
De liberdade
Minhas pernas se abrem
E são possuídas
Por um estranho
Que alimenta minhas dores...